Cerimônia marca o início da restauração de castelo comprado por família de Santa Maria

O restauro de um castelo na Região da Campanha promete resgatar o patrimônio material do Estado, preservar a história gaúcha e aproximar o público de uma imponente arquitetura.

No último sábado (26), uma cerimônia marcou o início das obras de revitalização do Castelo de Pedras Altas. Comprado pela família Segat, de Santa Maria, em março de 2021, o local é tombado como patrimônio cultural pelo Estado do Rio Grande do Sul.

Durante a cerimônia, a secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo, ressaltou a importância de ações que invistam na preservação da cultura gaúcha:

— Precisamos preservar o que é de mais relevante na nossa cultura. O governo do Estado vem realizando, em parceria com os municípios, investimentos em todas as regiões. Nós encontramos aqui, hoje, um exemplo disso, com a possibilidade da recuperação desse patrimônio que é de todos nós — destacou.

Localizado no município de Pedras Altas, perto de Bagé, na Região da Campanha, a fortaleza construída em granito rosado foi inaugurada em 24 de junho de 1912. Além de ter pertencido a um dos mais respeitados diplomatas gaúchos, o advogado Joaquim Francisco de Assis Brasil, o castelo também foi palco da assinatura do Tratado de Paz que deu fim ao conflito entre chimangos e maragatos, entrando para a história como o Pacto de Pedras Altas.

Presidente da Associação Castelo de Pedras Altas e pai dos proprietários, o advogado Luiz Carlos Segat salienta que preservar o patrimônio é um compromisso com a sociedade.

— Meus filhos hoje são proprietários do castelo, mas o legado não nos pertence, isso é da sociedade. Seria muito egoísmo nosso não deixar que as pessoas usufruam disso. Assis Brasil sempre disse que ele queria que uma visita ao castelo servisse para várias lições de coisas. Nós queremos mostrar isso, a contribuição de Assis Brasil para diferentes áreas — explica Segat.

​

Apesar de nunca ter sonhado com a aquisição de um castelo, a família Segat tem se dedicado intensamente para preservar o legado da história e cultura presentes no imóvel:

— Nunca sonhei com isso, mas nós estamos realizando o sonho de muitas pessoas, de historiadores, de pesquisadores, de pessoas que amam a cultura e que amam a história orgânica e que viam aquilo se deteriorando — destaca o presidente ao citar uma conversa com sua filha.

Restauração

Com recursos do Pró-Cultura RS, via Lei de Incentivo à Cultura (LIC), a primeira etapa do projeto será executada com quase R$ 2 milhões, tendo patrocínio da Unimed, Beltrame Materiais de Construção, Rede Super, Plasbil, Podal Distribuidora e DSL Postos Santa Lúcia. A Fundação Toyota do Brasil entrou com patrocínio direto. O restauro conta com apoio institucional da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), da prefeitura municipal de Pedras Altas e da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

Os primeiros pontos da restauração prevêem a impermeabilização e a pavimentação da laje de cobertura do castelo, nos locais de maior acesso, e, no andar superior, a remoção e a execução dos revestimentos internos, além de instalações elétricas e restauro da pintura das janelas metálicas.

A intervenção estrutural no terraço do castelo está prevista para ser realizada na segunda etapa do projeto.

Futuramente, um Ecomuseu deve ser instaurado no local com o objetivo de valorizar o território, a paisagem cultural e a memória local, sendo uma importante contribuição para o desenvolvimento cultural do Estado.

Chamadas de “cicatrizes”, algumas peças e estruturas do imóvel devem manter o atual aspecto que atravessou as décadas, é o caso de algumas vidraças quebradas quando os seguidores de Borges de Medeiros, também chamados de chimangos, invadiram o castelo.

— As marcas de tiro, as cicatrizes ficam. Não é uma reforma, as nossas cicatrizes precisam permanecer — assegura Segat ao relembrar o ato de Assis Brasil ao não substituir as janelas danificadas.

Com visitação abertas ao público desde outubro de 2022, o Castelo de Pedras Altas oferece visitas guiadas mediante agendamento. O custo por pessoa é de R$100.

Visita ao castelo de Pedras Altas

• Quanto: R$ 100
• Quando: Qualquer dia da semana, mediante agendamento
• Contato: Instagram @castelopedrasaltas ou pelos telefones (55) 99631-9490/ (55) 99163-4555

Edificação

A Granja de Pedras Altas foi o grande projeto pessoal de Joaquim Francisco de Assis Brasil, político, diplomata, produtor rural e intelectual gaúcho.

Para desfazer o mito da rusticidade da vida no campo, Assis Brasil construiu uma moradia confortável, em forma de castelo medieval, inaugurada em 1912, onde instalou uma grande biblioteca com obras raras e diversificadas. O castelo foi um marco histórico da Revolução de 1923, da qual Assis Brasil foi o chefe civil, e sediou a assinatura do Pacto de Pedras Altas, pondo fim ao conflito.

Além das razões históricas para o tombamento do castelo, efetivado pelo Iphae em 1999, a granja modelo de Pedras Altas é um exemplo no uso de técnicas pioneiras no sistema construtivo e na infraestrutura dos prédios, como iluminação a gás, captação de águas pluviais para abastecimento e preocupação com conforto térmico.

O castelo conta com 44 cômodos, com dois andares principais, subsolo e torres. Os espaços contêm mobiliário e objetos de época trazidos pelo político, principalmente de Lisboa, Paris, Nova York e Buenos Aires – locais em que viveu com a família quando exercia atividade diplomática.

Assis Brasil, história além de Pedras Altas

Ao deixar um grande legado para a agricultura gaúcha, Assis Brasil foi homenageado ao emprestar o seu nome ao parque que todo ano recebe a Expointer, o Parque Estadual de Exposições Assis Brasil. O diplomata também é considerado patrono da agricultura no Rio Grande do sul, recebendo esse título pelo grande destaque que teve na agricultura e pecuária:

• Em 1896 introduziu a raça de gado Jersey no Brasil, sendo que as duas primeiras matrizes foram adquiridas da Rainha Vitória, da Inglaterra
• Pioneiro ao trazer eucalipto para o Rio Grande do Sul (trouxe mais de 100 espécies)
• Em 1894 fundou a Brasileira Sociedade para Animação da Agricultura, com sede em Paris
• No ano de 1897, em Lisboa, escreveu a obra Cultura do Campos

Assis Brasil também deixou legado ao Direito Eleitoral, sendo o Código Eleitoral de 1932 a última grande contribuição de Assis Brasil à política nacional. Por meio do Decreto nº 21.076, de fevereiro de 1932, surgia o primeiro Código Eleitoral brasileiro. Entre as suas novidades, estão a criação da Justiça Eleitoral, a instituição do voto feminino e o voto secreto.